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Bancada do PT questiona governo sobre modelo de distanciamento controlado

O baixo número de testes, o represamento de atendimentos de outras doenças e a flexibilização do distanciamento social mesmo com o número de casos crescendo. Estes foram alguns questionamentos que os deputados do PT, presentes na reunião virtual da Comissão de Saúde e Meio Ambiente, fizeram aos representantes do governo do Estado, que apresentaram as projeções de cenários e indicadores sobre a pandemia, do Comitê de Dados – Covid 19 coronavírus, da Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão.

 

O deputado Zé Nunes observou que os números em Santa Catarina e Paraná estão com indicadores melhores que o RS. Da mesma forma, acrescentou, acontece com o Uruguai, país vizinho que está com números bem menores de óbitos. Para o deputado, a política de testagem no Brasil é muito ruim. Comparou que enquanto a Europa testa 7% da população, o Brasil não chega a 0,5%. “Estou muito preocupado, pois tenho quatro solicitações de pessoas que não conseguem dar continuidade no tratamento do câncer. Estamos assistindo ao represamento de casos graves de saúde. Além disso, o período de inverno tem lotação das UTIs e está ficando dramático”. Citando reportagem que assistiu hoje, o deputado afirmou que o Estado está perdendo pessoas pela falta de atendimento, já que 75% dos procedimentos eletivos deixaram de ser realizados.

 

O esforço da secretária em implementar um modelo com base em indicadores foi elogiado pelo deputado Pepe Vargas. Contudo, advertiu, o governo optou por não esperar a queda do número de casos, não testar mais, não esperar a implementação do plano de contingência e mesmo assim flexibilizar o distanciamento social. “O pressuposto preconizado pela OMS é de que o distanciamento social pode ser relaxado quando houver uma queda no número de casos e de mortes, o que não está ocorrendo no estado”.

 

Pepe, que é médico, criticou o baixo índice de testagem. Reiterando a fala do deputado Zé Nunes sobre os casos de oncologia, ponderou que na medida em que há represamento de outras patologias, o sistema de saúde demonstra um cenário que não é a realidade. Outra crítica do parlamentar foi sobre o RS ser um dos estados com menor transparência nos dados e que não diferencia os leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) dos hospitais privados.

 

Para o deputado Valdeci Oliveira, há um esforço, mas é preciso avaliar que com a chegada do inverno, a tendência é que as doenças respiratórias aumentem. Valdeci também afirmou que na sua região, os dados que o estado divulga são muito diferentes dos relatórios dos municípios. “Neste caso de pandemia é preciso transparência para dar segurança à população. Mais do que nunca precisamos refutar o achômetro em nome da ciência”, ressaltou.

 

Diante das dificuldades e da necessidade de enfrentamento à crise, os esforços devem ser somados. Neste sentido, o deputado Edegar Pretto lembrou que a bancada tem tentado trabalhar de forma propositiva, sem demarcação política, apontando caminhos, sugestões e críticas. “Achamos que o estado tem capacidade técnica para dizer como as cidades devem funcionar. Estamos na expectativa de que o sistema dê certo. Não sabemos em que tempo ainda teremos uma condição melhor”. A crise econômica e a situação dos trabalhadores, complementou, está cada vez pior, por isso a bancada sugeriu que o Banrisul criasse linhas de crédito para os pequenos produtores e as pequenas empresas para que os mais pobres também possam se manter e fazer o distanciamento social. Outro apontamento feito pelo deputado foi de que o hospital Ernesto Dornelles está com dificuldades para comprar equipamentos e questionou se outros hospitais também enfrentam esse problema.

 

Durante a reunião, a secretária de Planejamento, Leany Lemos, afirmou que não está havendo flexibilização e sim um plano de convivência com a pandemia. Ao defender a proposta do governo, destacou que o estado ainda possui leitos livres, mas sem mencionar que, para isso, uma série de procedimentos e tratamentos não estão sendo realizados. Sobre essa questão, o representante da Secretaria de Saúde, Bruno Naundorf afirmou que o Estado nunca teve interrupção de atendimento, que o que aconteceu foi uma abstenção das pessoas que deixaram de comparecer para os procedimentos agendados. Naundorf anunciou, ainda, a distribuição de mais 250 mil testes entre os municípios e que o Estado tem 326 leitos novos aguardando a habilitação pelo Ministério da Saúde.