Lançada campanha contra assédio sexual no transporte público
Com o slogan ‘Fim da linha para a violência contra a mulher’, o Comitê Gaúcho Impulsor ElesPorElas, integrante do movimento mundial da ONU Mulheres, lançou nesta segunda-feira (30) uma campanha em parceria com a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre – Trensurb. O objetivo é inibir o assédio sexual contra mulheres nos vagões do metrô. Problemas de constrangimento e casos de abuso com contato físico são frequentes neste tipo de transporte. Nos últimos três anos a Trensurb registrou 40 casos de assédio ocorridos dentro dos trens.
A campanha, é o primeiro projeto coletivo do Comitê provocar o tema pelo fim da violência contra mulheres em espaços de transportes públicos. A partir do lançamento, cartazes e painéis estão sendo espalhados nos trens e plataformas das estações, entre Porto Alegre e Novo Hamburgo. As peças têm imagens com destaque para o número 180 da Central de Atendimento à Mulher. A ligação é gratuita. Usuários do sistema que presenciarem ou forem vítimas de violência ou assédio ainda podem entrar em contato com a empresa por meio do telefone de emergência (51) 3363-8026 ou mandar SMS para o canal de denúncias/emergências (51) 8463-9836 (ambos disponíveis 24 horas). Também podem utilizar o telefone ponto a ponto disponível em todas as estações para contato com a Ouvidoria da Trensurb, ou ainda procurar um dos empregados do metrô nas estações.
Para o coordenador do Comitê Gaúcho Impulsor ElesPorElas, deputado Edegar Pretto (PT), a campanha em um espaço que é utilizado diariamente por 171 mil pessoas abre mais uma oportunidade para que homens e mulheres observem as mensagens no interior dos trens e quebrem com o silêncio. “É preciso engajamento entre homens e mulheres, para que juntos possamos combater a violência contra as mulheres. Quando se fala em assédio, se fala de uma cultura machista que ainda olha a mulher como objeto. Quem sofre assédio pode e deve denunciar”, afirma Edegar.
Para o lançamento esteve em Porto Alegre a Dra. Nadine Gasman, representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil. Ela foi recebida pelo coordenador do Comitê Gaúcho ElesPorElas e pelo diretor-presidente da Trensurb, David Borille. Eles embarcaram no metrô no centro de Porto Alegre junto com convidados e convidadas. No trajeto até Canoas, um casal de atores encenou um caso de assédio como parte da campanha para conscientizar usuários do trem. Na simulação, o homem segurava a menina pelo braço e a seguia pelos vagões. Ao final, alertaram para os perigos do machismo na sociedade.
Na estação Canoas houve a exibição de um painel de grafite da artista Ana Carolina Kruze Marchesan. Depois, o lançamento oficial foi realizado na Universidade La Salle (Unilasalle). Além da apresentação de um show de hip hop, a representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, falou da iniciativa e do comprometimento do Comitê Gaúcho com o público, sobretudo no trabalho contra o machismo e fim da violência contra as mulheres. “Este é o primeiro comitê estadual no Brasil, e coloca em discussão o assédio sexual contra mulheres e meninas, que é uma preocupação da ONU Mulheres no mundo inteiro. É importante que desenvolvamos sistemas de transporte público seguros para as mulheres, para que elas possam se locomover em qualquer hora e lugar em paz, sem serem assediadas e sem terem medo”, frisou Nadine.
O reitor da Unilasalle, Paulo Fossatti, também destacou que é preciso romper o silêncio que acoberta a violência contra as mulheres. “Olho para este projeto com grande esperança. Onde encontramos uma desigualdade temos a obrigação de mostrar indignação. Estamos engajados”, afirmou.
Além dos cartazes, a campanha terá outras atividades, como intervenções artísticas com o uso grafite e de batalhas de RAP que ocorrerão por um período de três meses em estações selecionadas. O diretor-presidente da Trensurb lembrou que a empresa, sistematicamente, participa de campanhas e atividades pela igualdade de gênero e fim da violência contra as mulheres. Em 2013, a empresa formou um grupo para discutir e expandir, no ambiente de trabalho, a promoção da igualdade, a prevenção e o combate a todas as formas de violência contra as mulheres. “A campanha ‘Fim da linha para a violência contra a mulher’ tem justamente este objetivo, que é espalhar a mensagem entre os usuários. Se cada um fizer a sua parte vamos acabar com os casos de assédio no metrô”, declarou David Borille.
Do total das 171 mil pessoas que usam trem diariamente na Região Metropolitana, mais da metade são mulheres, que usam o serviço pelo menos cinco dias por semana, numa jornada de trabalho e estudo com uma rotina que inclui horários de pico com vagões lotados. É comum mulheres reclamarem das atitudes de homens, que se aproveitam da lotação para agir. Este tipo de investida masculina explica a cultura por trás de muitas violências. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado mostram que no Rio Grande do Sul os casos de estupro aumentaram no comparativo entre os períodos de janeiro a dezembro de 2016 e 2017. Foram 1.574 casos em 2016, contra 1.661 em 2017. Uma média de quatro estupros por dia. No caso de feminicídios consumados, foram 96 em 2016, contra 83 no ano passado. Já as tentativas de feminicídio aumentaram em 23,2%, e saltaram de 263 para 324 tentativas. A cada quatro dias uma mulher morre vítima de feminicídio no RS, e 63 mulheres sofrem por dia algum tipo de agressão com lesão.
Todas as entidades que se unem ao Comitê devem promover uma mudança interna ou criação de programas de empoderamento e defesa das mulheres. A campanha é coordenada pelo Comitê Gaúcho Impulsor ElesPorElas, com participação da Trensurb, Universidade La Salle, Agência Moove, Ministério Público, Associação de Procuradores do Estado, Coletivo Hip Hop Linha do Trem e Escritório da ONU em Brasília.