Pretto faz intermediação com agricultores e MP para solução da falta de luz no Vale do Taquari
A grave situação da estiagem em municípios gaúchos foi agravada esta semana com a falta de energia elétrica na área de concessão da RGE, em locais do Vale do Taquari. A constante falta de luz motivou uma reunião solicitada pelo deputado estadual Edegar Pretto (PT) ao procurador-geral de Justiça do RS, Marcelo Dornelles. O encontro ocorreu nesta quinta-feira (20) no Ministério Público, em Porto Alegre.
No encontro, com participação de agricultores e representantes da RGE, da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do RS (Agergs), do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat) e da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), foram relatados os problemas de fornecimento de energia por parte da concessionária e as perdas das famílias que vivem no campo.
Produtores rurais, em especial nas pequenas propriedades que produzem leite, frangos e suínos, dependem somente da energia que chega pelos fios de luz, e na maioria não possuem condições financeiras de arcar com um gerador. Em época de instabilidade do setor elétrico e atividades climáticas, como a estiagem, algumas horas sem refrigeração e sem ventilação já azeda o leite e causa a morte dos animais, com perda de produtos e prejuízos financeiros. Isso porque, é indispensável o uso da energia elétrica para o armazenamento desses produtos.
O procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, diz que a reunião oportuniza o debate do assunto, para que haja solução aos problemas. Dornelles disse que diante de todos os relatos e documentos, fica nítido que a empresa não está atendendo direito aos consumidores na região, mesmo com os investimentos que a RGE afirma estar fazendo.
O procurador questionou o gerente de serviços comerciais que representou a empresa na reunião a respeito dos compromissos da concessionária em estratégias de prevenção e atendimento em áreas rurais. Ao final, definiu um prazo de 30 dias para que a RGE apresente ao Ministério Público um plano de investimento e soluções. O encontro ficou marcado para o dia 21 de fevereiro na sede do MP, em Porto Alegre.
Edegar Pretto destacou que o problema ganhou repercussão no estado a partir do vídeo de um grupo de agricultores de Colinas, que indignados despejaram um balde de leite azedo na porta da sede da empresa, em Lajeado. O fato ocorreu na terça-feira (18), quando localidades estavam há mais de 30 horas sem energia, e já contabilizavam perdas na produção de leite e criação de frangos.
“Estive em municípios do Vale do Taquari para tratar do tema da estiagem. As angústias na região se dividem entre a falta de água e a falta de luz. O que a empresa RGE está fazendo não está sendo suficiente para atender a área de concessão. O Vale do Taquari é a terceira bacia leiteira do estado, e a luz é fundamental para o trabalho e produção no campo e na cidade”, afirma o deputado.
Pretto ainda lembrou que o tema da falta de energia não é novidade, e que na Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia Legislativa, onde é presidente, há constantes reclamações sobre o serviço prestado pela RGE. Segundo ele, a reunião com o Ministério Público tem objetivo de buscar solução ao problema recorrente, e tratar das possibilidades de elaboração de protocolos de compromissos da empresa, que evitem as interrupções no fornecimento de energia.
“Todos os caminhos do diálogo já foram percorridos mais de uma vez, e esperamos que haja uma solução imediata”, declarou.
Como o trabalho diário funciona por meio de eletricidade, a falta de energia pode oferecer altos riscos para os agricultores. É o caso de Aline Taís Meyring Lohmann, de Colinas. Ela é a agricultora que aparece no vídeo derramando leite na porta da empresa em Lajeado. Durante a reunião, os participantes destacaram a ação dela como ‘um ato de coragem e desespero’, pela perda que as famílias estão enfrentando na região.
Aline contou que a falta de luz afeta diretamente a produção de suínos e leite, em sua propriedade. Disse que as vacas ficam dentro de locais que precisam de ventilação para produzirem leite. Informou que a família investiu cerca de R$ 2 milhões na propriedade, em um sistema de ordenha robotizada.
“Aí bateu aquele desespero, porque eu fiz todo esse investimento e as coisas não mudam. Eles prometem mudança e não acontece. Pensei num ato, não para chamar a atenção do povo, mas chamar a atenção da empresa. Era um pedido de socorro, e eu queria que eles atendessem realmente e vissem que a gente estava precisando de mudança e não de promessas”, relata.
Segundo Aline, mais de 20 propriedades ficaram sem energia. Além dos prejuízos com a perda de produtos, ela conta que ainda vai gastar mais para manter um gerador funcionando 24 horas para a ordenha e o resfriamento do leite.
“Eu resfriava o leite até o momento que o leiteiro vinha retirar, mas a ordenha não vai poder parar. Eu fiquei mais de 50 horas sem energia, e se eu deixar o gerador ligado, são 18 litros de combustível por hora. Imagina quanto eu vou ter de despesa só no diesel, e a conta de luz vai vencer igual e o valor vai ser o mesmo. Esse problema já acontece há muito tempo na região, já ficamos até 96 horas sem luz, e nos últimos dez dias, nós ficamos quatro sem luz. Então é recorrente, e recuperar tudo isso é muito difícil”, lamenta.
O que diz a RGE
Fábio Calvo, gerente de serviços comerciais, disse que a empresa tem feito investimentos expressivos na sua área de concessão, para modernização das redes e troca de postes. Segundo ele, na região do Vale do Taquari a empresa tem investido também em áreas rurais. O gerente disse também que a empresa prevê mais investimentos em manutenção. Sobre o temporal que atingiu a região do Vale do Taquari, relatou que mais de 17 mil clientes tiveram problemas com falta de luz, e informou que somente cerca de 5% não tiveram atendimento em 24 horas.
Sandro Herrmann, prefeito de Colinas e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), informou que já teve várias reuniões com a RGE, e que o problema é recorrente. O presidente alerta que o problema chegou num momento que está inviabilizando as propriedades rurais.
“A empresa precisa melhorar os seus serviços. Existem alguns municípios que são atendidos por cooperativas, e o serviço é completamente diferenciado. Há uma reestruturação de redes, há um atendimento mais imediato nas ocorrências. Então quer dizer que é possível, por isso temos que pressionar os órgãos que fazem a regulação desses contratos com a RGE. A gente quer dar oportunidades e condições para as pessoas poderem produzir e sustentarem as suas famílias”, avalia.