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Campanha Máscara Roxa chega à região Celeiro e farmácias acolhem denúncias de violência doméstica

A Campanha Máscara Roxa, que permite às mulheres vítimas de violência denunciarem os seus agressores em farmácias, foi lançada nesta terça-feira (7), por videoconferência, na região Celeiro do Rio Grande do Sul. A iniciativa é do Comitê Gaúcho ElesPorElas, da ONU Mulheres, e contemplou as 21 cidades de abrangência da Associação dos Municípios da Região Celeiro (Amuceleiro).
Conforme o deputado estadual Edegar Pretto (PT), que coordena o Comitê, este foi o terceiro lançamento regional da campanha. O objetivo é potencializar a divulgação, para que as mulheres saibam que agora podem denunciar casos de violência doméstica em farmácias. Ao mesmo tempo, somar mais estabelecimentos com adesão. “Queremos instigar que cada município da Celeiro tenha ao menos uma farmácia participando da campanha”, destacou.
O parlamentar explicou que a Campanha Máscara Roxa é fruto de uma recomendação da ONU Mulheres, que constatou um aumento significativo dos casos de violência doméstica em todo o mundo, neste período de isolamento social em função da pandemia do novo coronavírus.
“A vítima e o agressor convivem por mais tempo em casa e a mulher tem dificuldade de denunciar, de pedir ajuda. Então há uma subnotificação de casos registrados. Por isso a ONU recomendou a criação de políticas que pudessem tirar essas mulheres da situação de violência”, recordou.
Segundo Edegar Pretto, o RS foi o primeiro estado brasileiro a inserir as farmácias como canais facilitadores da denúncia. “Com a pandemia, mesmo em situações extremas de fechamento total do comércio, as farmácias são os únicos locais que permanecerão abertos por serem considerados serviços essenciais. Elas são mais que um ponto de venda de medicamentos. São também um ponto de referência, de encontro, de troca de informações. E, agora, já são centenas que também podem ajudar as mulheres que sofrem violência”, sinalizou.
A campanha também foi motivada pelo aumento dos casos de feminicídios no estado desde o início da pandemia. Ao todo, 28 mulheres foram assassinadas por questões de gênero nos meses de março, abril e maio, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado. Somente em abril, o aumento foi de 66,7% em relação ao mesmo mês do ano passado.  Ao todo, desde o início do ano, 43 mulheres morreram vítimas de feminicídio no estado.
Como funciona a campanha 
Lançada no dia 10 de junho no RS, a Campanha Máscara Roxa permite que mulheres façam denúncias de violência doméstica em farmácias. Ela começou com a adesão de 600 farmácias e já são 1.314 de quatro redes envolvidas: Associadas, Vida, Preço Mais Popular e Agafarma. De abrangência da Amuceleiro, 7 dos 21 municípios já possuem estabelecimentos participantes. Até o momento, farmácias de oito municípios gaúchos já receberam denúncias, em Venâncio Aires, Bento Gonçalves, Casca, Vitória das Missões, Pinhal, Capão da Canoa, Rio Grande e Porto Alegre.
Todas as farmácias com adesão estão com o selo “Farmácia Amiga das Mulheres”, que serve para que as vítimas as identifiquem. Os atendentes receberam capacitação online para o procedimento e para garantir a segurança da vítima. Ao chegar na farmácia a mulher deve pedir a máscara roxa, que é a senha para que o atendente saiba que se trata de um pedido de ajuda. O profissional dirá que o produto está em falta e pegará alguns dados para avisá-la quando chegar. Após, o atendente da farmácia passará à Polícia Civil as informações coletadas, via WhatsApp, para que o órgão tome as medidas necessárias.
Edegar Pretto lembra que qualquer farmácia pode aderir. O objetivo é envolver também aquelas que não fazem parte de grandes redes, mas que estão em cidades menores. “As farmácias que quiserem ser amigas das mulheres não pagarão nada por isso. Elas prestarão um serviço à sociedade e não precisarão testemunhar em nenhum processo judicial, pois é garantido o anonimato”, disse. Interessados devem entrar em contato com o Comitê: 51 991993641 | [email protected]
Participações
O lançamento regional da Campanha Máscara Roxa contou com a participação de representantes de órgãos de segurança, Poder Judiciário, proprietários de farmácias, além de autoridades, lideranças locais e representações de instituições e da sociedade.
Gioconda Pitt, juíza-corregedora do Tribunal de Justiça, disse que no último período teve um aumento das medidas protetivas concedidas às mulheres, ao mesmo tempo em que se teve mais casos de feminicídios. Ela comentou que há uma preocupação com a evidente subnotificação. “Muitas vezes a vítima tem medo de denunciar”.
Liseane Hartmann, defensora pública, complementou que há uma rede de proteção disponível para ajudar a vítima que quiser romper o ciclo de violência e denunciar o seu agressor. Ela afirmou que o combate a esse problema “é de responsabilidade de todos, pois a violência doméstica é uma questão de saúde pública”.
Marion Violino, delegado da Polícia Civil de Três Passos, reforçou que o isolamento social neste período de pandemia provocou o aumento da subnotificação. Um dos motivos é que as mulheres passam mais tempo com os seus agressores, que muitas vezes as impedem de saírem de casa. Ele relatou ainda que a maioria das vítimas de feminicídios nunca tinha registrado ocorrência da violência que sofria.
Carla Souto, promotora de Justiça, defendeu que a Campanha Máscara Roxa continue mesmo depois que passar a pandemia, pois incentiva e encoraja as mulheres para que façam denúncias. “Elas não vão precisar se expor, não vão relatar o que está passando.”
Major Munari, comandante do 7º Batalhão da Polícia Militar de Três Passos, ressaltou que em abril deste ano foi implementada na região a Patrulha Maria da Penha, onde seis brigadianos atuam em casos de violência contra as mulheres. Agora, a equipe está em busca de parcerias para impulsionar ainda mais a Campanha Máscara Roxa. Além disso, conforme o major, há treinamento constante do efetivo, já que muitas vez é ele que estabelece o primeiro contato com as vítimas.
Marisol Mazutti, representando a Farmácias Associadas, disse que a rede é composta por pequenos empresários, está presente em muitos municípios do estado e tem forte compromisso com questões sociais da comunidade. Ela acrescentou que os seus colaboradores estão orientados a reconhecer o pedido de ajuda, a pegar os dados da vítima, a denunciar e depois a manter o sigilo.
Carlos Alberto Vigne, prefeito de Braga e presidente da Amuceleiro, sugeriu que os municípios da região criem casas de apoio para acolher as mulheres vítimas de violência doméstica. Também apontou que há condições de se criar um movimento em todo o estado, com garantia de orçamento.
Marli Franke, vereadora de Três Passos, falou que a campanha torna mais acessível o socorro às mulheres vítimas de violência. “Vai salvar vidas”. Já João Schommer, gerente regional da Emater/RS-Ascar, comentou que a entidade está engajada na campanha em todo o estado. Ainda destacou que, desde a sua fundação, a Emater trabalha diretamente com as mulheres rurais, que também são vítimas da violência.
Outros lançamentos regionais
De acordo o Comitê Gaúcho da ONU Mulheres, até o final de julho serão feitos outros lançamentos regionais da Campanha Máscara Roxa, contemplando também as regiões Sul, Campanha, Planalto Médio, Planalto, Litoral Norte, Serra, Carbonífera e Metropolitana de Porto Alegre. Na semana passada, os lançamentos virtuais foram nas regiões Norte e Centro.
Municípios que possuem Farmácias Amigas das Mulheres na região da Amuceleiro
Chiapetta (Vida Farmácias, da Rede Vida)
Crissiumal (Farmavida e Vida Farmácias, ambas da Rede Vida)
Esperança do Sul (Vida Farmácias, da Rede Vida)
Redentora (Vida Farmácias, da Rede Vida)
Santo Augusto (Vida Farmácias, da Rede Vida / Farmácia Associadas)
Tenente Portela – (Vida Farmácias, da Rede Vida)
Três Passos (Vida Farmácias, da Rede Vida / Farmácia Associadas / BS Farmácias)