Artigo: Quem vai ouvir o grito dos agricultores?
É inacreditável o descaso dos governos com a agricultura. A situação caótica, por conta da estiagem, está tirando a paz e a saúde das famílias. A ministra da agricultura esteve no RS e o governador foi a Brasília. Mas, para nossa decepção, quando estivemos no Ministério da Agricultura, dias atrás, vimos que o governo não tem absolutamente nada organizado para amparar a agricultura. Pelo contrário, pediram que nós ajudássemos a encontrar recursos. Ou seja, o ministério não sabe como ajudar.
Para completar, o governo federal não compareceu na abertura da Expodireto, maior evento do setor no RS, e os agricultores tiveram suas expectativas frustradas, sem o anúncio de alguma medida de socorro para o drama da estiagem, como a renegociação de dívidas ou crédito emergencial.
Já o governo do Estado está num mundo paralelo. Comemora um superávit de R$ 2,5 bilhões, enquanto os agricultores sofrem por falta de investimentos e têm que arcar com os prejuízos de uma safra 41,9% menor que a passada. Isso é fazer poupança em cima dos trabalhadores. Como explicar um superávit, com a agricultura pedindo socorro, agricultores sem água e mais de 420 municípios em emergência?
Visitei propriedades em diversas regiões, onde famílias estão cavando de enxada para encontrar água, outras estão deprimidas com perdas nas lavouras e criações de animais. Vi muita angústia e sofrimento no olhar de quem produz alimentos, essa atividade tão sagrada. Junto com movimentos do campo, a bancada do PT apresentou projeto que trata de crédito emergencial para a agricultura. Ele precisa ser votado com urgência.
Apresentamos ao presidente da Assembleia a proposta de missão a Brasília e a instalação de uma Comissão Externa para acompanhar os problemas. Também temos cobrado, há meses, que o governador chame a responsabilidade para si.
É possível mudar esse quadro com planejamento e prevenção. Já enfrentamos isso no passado, com investimentos em programas de irrigação. Pensar a agricultura é pensar no desenvolvimento e numa economia forte. Sem isso, a população sofre com a escassez e o custo de vida encarece.
Propomos uma política permanente, com ações de caráter estrutural para maior produtividade e uma reflexão conjunta da população sobre as demandas do campo. O raciocínio é simples, mas fundamental. A agricultura precisa ser priorizada para continuarmos tendo o que comer.
Edegar Pretto
Deputado Estadual (PT) e coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Crédito Emergencial para a Agricultura Familiar